Não poderá ser um que tenha ideias
pessoais, ou, se as tiver, que as expresse livremente, reduzido, pois, a uma
figura inerte, de passeante se possível discreto, sem arrogâncias expressivas,
que lhe não serão permitidas, Carmona inaudível, apenas visível, personagem
amorfa, é o que se pretende da coroa de um PR, menosprezado à partida.
Estranho! Indigno de um povo, também, esta pré-demolição puramente pretensiosa
e pedante, numa ambição de saliência crítica pessoal. Lamento, porque geralmente
admiro o espírito do escritor.
Os candidatos: a análise
que faltava
O riquíssimo folclore que envolve as eleições apanho-o aqui e ali.
E, digo-o com enfado, sobra para analisar e dizer o que seria necessário para
eu votar nestes candidatos.
ALBERTO GONÇALVES Colunista
do Observador
OBSERVADOR, 13 dez. 2025, 00:2115
Após semanas de estudo
exaustivo, sinto-me enfim habilitado a proceder a uma análise ponderada dos
candidatos presidenciais, ou pelo menos dos candidatos que participam dos
debates televisivos. É verdade que vi até agora cerca de zero debates, mas
tenho contado com o espírito de sacrifício dos jornalistas desta casa, que se
sujeitam aos sucessivos martírios para depois descrevê-los e avaliá-los. O
resto do riquíssimo folclore que envolve as eleições, apanho aqui e ali,
através de vídeos, pedaços de entrevistas e episódios sortidos que amadores se
dão ao trabalho de partilhar nas “redes sociais”. Chega e, digo-o com enfado,
sobra.
André Ventura
De todos os candidatos, é um dos
dois com o extraordinário bom gosto de me seguir no Twitter, actual X. Um
pormenor tão irrisório bastaria para cativar a minha preferência? É evidente
que sim. Infelizmente, o dr. Ventura não limita a campanha a esse ponto forte e
espalha-se em considerações por temas menores como a corrupção, a imigração e a
economia. A corrupção e a imigração vá que não vá, mas na economia teima em exibir uma costela socialista que, para quem
garante estar fora do regime, é estranhamente típica de quem vive lá dentro.
O que seria necessário para eu votar nele: que tivesse uma
epifania e desatasse a defender a privatização da TAP, da CGD, da RTP, da CP e
do convento de Mafra. E mantivesse a opinião durante quinze dias.
António José Seguro
Trata-se, sem dúvida, do
proverbial choninhas inofensivo – e isto é um elogio. É também, ou parece ser,
um sujeito educado e decente, o que é outro elogio. Falta é ouvi-lo responder à
pergunta que ainda não lhe fizeram: não tem vergonha de ter construído uma
carreira política sob o beneplácito do eng. Guterres? Além disso, tem a
agravante de não me seguir no Twitter, que acumula com a atenuante de não ter
lá conta. A circunstância de o PS o apoiar pesaria em seu desfavor, mas o
facto de o apoio ser fictício pesa-lhe favoravelmente.
O que seria necessário para eu votar nele: que negasse três vezes ter sequer chegado a conhecer o eng. Guterres.
Catarina Martins e António Filipe
Ele é o candidato de um partido
que resiste à realidade, ela tem o apoio de um partido que desistiu da
realidade. Estão de acordo em tudo: sobre a greve, os “trabalhadores”, a NATO,
os EUA, Trump, o capitalismo, o Médio Oriente, a Venezuela, o Nobel da Paz,
etc. Só simulam discórdia a propósito
da guerra na Ucrânia, acerca da qual o comunista do PCP finge equidistância e a
comunista do BE mente desalmadamente.
O que seria necessário para eu votar neles: nela, que prometesse exercer o mandato a partir de Gaza; nele, que
ameaçassem oferecer-me um apartamento com varanda em Moscovo.
Henrique Gouveia e Melo
Um belo dia, o almirante pediu
uma corda para se enforcar na hipótese de se meter na política. Um dia triste,
meteu-se na política e, em certo sentido, enforcou-se mesmo, dado possuir a eloquência de um telégrafo.
E a consistência de um pudim: dia sim,
dia não muda de inspiração e pertença ideológica de acordo com o espaço
disponível nas sondagens. À medida que o espaço encolhe, a disponibilidade
de Gouveia e Melo alarga-se. Tem
apoios sonantes e não necessariamente apelativos nas pessoas de Rio, Isaltino e
Sócrates.
O que seria necessário para eu votar nele: que as teses dos teóricos
das conspirações se confirmassem e os
efeitos secundários das vacinas se manifestassem na cabina de voto.
João Cotrim Figueiredo
É, ou pelo menos diz ser, cinco
ou seis vezes por frase, “liberal” (embora fique atrapalhado quando o acusam de
querer a “flat tax” e a privatização da CGD). E o que é que
isso significa para um presidente? Que só dará posse a governos liberais?
Ficaríamos sem governo durante dez anos, o que de resto seria uma benesse assaz liberal. Outro
ponto forte é a aparente incapacidade de o dr. Cotrim Figueiredo se manter num
cargo por muito tempo, o que poderia implicar o supremo milagre de ficarmos
sem governo e sem presidente. A terceira virtude é seguir-me no Twitter.
O que seria necessário para eu votar nele: que jurasse desistir em favor de Milei.
Jorge Pinto
O Júlio Pires destaca-se dos
adversários pela irreverência, pela competência e pela assertividade. O Jaime
Pinheiro é frontal. O Joel Pimentel diz o que tem de ser dito sem rodeios. O
Joaquim Piedade não tem medo de chamar os bois pelos nomes e de gritar que o
rei vai nu. O José Pinho é um jorro de sangue-novo no meio de um ambiente
político enquistado. O Januário Pimenta é progresso, modernidade, ousadia,
agregação da esquerda. O Jacinto Piteira é inconfundível. Estou a brincar: sei
lá quem é o João Pina.
O que seria necessário para eu votar nele: fixar-lhe o nome e
reconhecer-lhe a existência.
Luís Marques Mendes
Eis o candidato de quem achou a
presidência do prof. Marcelo espectacular e irrepreensível. Como o mentor,
assegura que nunca terá uma opinião clara sobre assunto nenhum, excepto Israel,
Trump e as vitórias da selecção da bola. É apoiado por Pacheco Pereira e
orgulha-se disso. Não me segue no Twitter, mas segue Kamala Harris, o sr.
Trudeau do Canadá e, claro, o presidente de Angola. Em princípio, promete a
solitária vantagem de não passar 68% do tempo na praia, a mudar roupa íntima,
mas o seu cadastro no bodyboard não garante nada. A desvantagem
é que não poderá inaugurar o mandato com uma visita a Fidel Castro: Fidel já
morreu, e o dr. Marques Mendes visitou-o antes.
O que seria necessário para eu votar nele: estar bêbado (eu ou ele).
ELEIÇÕES
PRESIDENCIAIS ELEIÇÕES POLÍTICA
COMENTÁRIOS (de 15)
António Rocha Pinto: Faltou a análise ao
Manuel João Vieira
Paulo Machado: Brilhante Vitor
Batista: Eu cá vou fazer como o dr AG, vou votar Ventura. Manuel Martins: Como já havia
afirmado, e este rol de candidatos, em minha opinião,
confirma-o, votar num presidente é sempre um tiro no escuro. As posições que os
candidatos assumem em campanha valem zero, até porque a eleição muda a
pessoa. E porque um presidente não pode ser destituído pelas suas
decisões, e não há manifestações a pedir a demissão do presidente, as
suas decisões vão tendencialmente para o lado que sopra o vento... J. D.L.: De morrer a rir. Mas
não responde à pergunta crucial: Porque é que o Alberto Gonçalves não se candidatou
à presidência da república? Que gozo não seriam os debates e os resultados finais? Luis
Silva: Sempre artigos de disparates sem freio, entremeados de
propaganda barata a Israel, mesmo que nada tenha a ver com o assunto, como é o
caso. Vitor
Batista > Luis Silva: Aceita e aguenta que
dói menos. Carlos
Costa: Não sabia que a corrupção e a imigração eram assuntos
menores. Uma crónica azarenta. José
Paulo Castro > Carlos Costa: A ironia, essa, é que é um assunto maior. José
Paulo Castro: O
facto de não incluir Manuel João Vieira na análise levanta a hipótese de votar
neste para ficar bêbedo com o vinho canalizado e depois ficarem reunidas as
condições para votar em Marques Mendes. Ou isso, ou vota em branco (o Manuel
João não especificou o tipo de vinho, pois não?) JOHN MARTINS: A política precisa de crítica,
não de veneno. O sarcasmo fácil pode
entreter, mas não revela nada de útil sobre os candidatos nem sobre o futuro do
país. O que se exige é análise séria, confronto de ideias e responsabilidade. Reduzir
o debate a caricatura e ataques pessoais é mais tóxico do que revelador. Quem
quer contribuir para a democracia deve elevar o nível, não afundá-lo. (O Alberto não está bêbado...pois não?) Américo
Silva: Marques
Mendes tem que prometer que ao contrário de Marcelo não beijará senhoras na
barriga, nem quero pensar o que pode acontecer se a senhora for alta. Vitor
Batista > Américo Silva: Se a sra for alta certamente que a vai beijar
abaixo do umbigo.
graça Dias: Caríssimo
Alberto Gonçalves : Hoje com
a leitura deste seu artigo, senti-me como se por acidente tivesse caído numa das canalizações
subterrâneas de uma grande cidade, e na ânsia de me pôr a salvo, acabei fustigada por vultos indecifráveis que me
confundiram e assustaram com mensagens ou supostas orientações, ora confusas,
ora contraditórias, ora fantasiosas ou surreais, ora até mesmo de engano.
Espectacular!...para meu alívio e descanso, tudo
não passou de uns escassos segundos em que a minha mente num " flash " mergulhou nos já
muitos debates nas nossas TVs, com os candidatos ao Palácio cor de Rosa.
Obrigada (gostei particularmente da
frase final. Recomendo um bom - Château Petrus de 2014 ). Nuno
Abreu: O
eterno estilo desconstrutivo, tipo Tiago Dores! Qual a utilidade que
tirei do artigo? Nenhuma. Foi apenas perda de tempo e confirmação do que já
pensava: transpira fel. M L: Realmente, o ex comentador televisivo parece-me
ser o pior candidato. Seria um nem considero como candidato qualquer criatura
com apoio das esquerdas. José Baltazar > M L: O mini Mendes se for eleito e tomar posse e governar a partir do Palácio de
Belém no Portugal dos Pequeninos, será o presidente que nos custa mais
barato. Meio Vazio: A última revelação é de gritos. José B Dias > Meio Vazio: Pela parte que me toca ... nem perto do coma
alcoólico!