sábado, 4 de maio de 2024

As guerras da rectaguarda


Têm o seu efeito de pertinência e impertinência, como foi o “Maio de 68” também. Recordo o meu tempo de estudante em Coimbra, em que na Associação Académica já se faziam debates políticos, não sei se a ocultas, e eu ficava, julgo que ingenuamente, admirada, pensando que essas reuniões de que ouvia falar, dariam pouco azo a um trabalho sério de estudo para cada curso, como eu supunha que seria a função de cada estudante – preparar-se, convenientemente, para o seu futuro profissional, cumprindo as regras que os sacrifícios dos familiares – distantes, como os meus - afinal, impunham como prioritárias aos estudantes com a consciência disso. Suponho que ainda hoje é assim para muitos estudantes, apesar das greves das democracias libertárias… Mas o caso em foco – Israel-Hamas – tem outras implicações, naturalmente, que Mafalda Pratas, cientista política, bem descreve.

As guerras dos campus

Estes protestos não são sobre o conflito israelo-palestiniano, mas sobre política norte-americana e ocidental. São a exportação para a política externa de tendências a que infelizmente temos assistido

MAFALDA PRATAS Cientista política

OBSERVADOR, 03 mai 24

Nos últimos anos, os campus norte-americanos têm sido palco de um debate aceso sobre os limites da liberdade de expressão. Há vários meses, uma das crónicas que aqui escrevi descrevia um caso, em tudo típico, passado na escola de Direito da Universidade de Stanford, na Califórnia. Nesse caso, como em inúmeros outros casos ocorridos nos últimos anos, tínhamos um orador controverso, geralmente a proferir um discurso conotado com a ala direita ou contra as causas identitárias ou progressistas, que era acusado de estar a espalhar e a utilizar um “discurso de ódio”, discriminatório e, por isso, violento contra alguma minoria ou grupo social. Em resposta, grupos de direita, com os seus próprios objectivos políticos, reclamavam pelo direito à liberdade de expressão, que, em sua opinião, deve ser inviolável. Grupos de esquerda, muitas vezes apelidados de woke, retorquiam que a liberdade de expressão deve ser limitada em nome de outros valores, como a igualdade e justiça social ou a segurança dos indivíduos (o “discurso de ódio” é, neste contexto, muitas vezes retratado como pondo em causa a segurança de determinadas pessoas).

Desde 7 de Outubro de 2023, mas principalmente nas últimas semanas, os papéis inverteram-se de forma curiosa. Na sequência de protestos cada vez mais intensos e difusos em defesa da causa palestiniana nos campus das universidades norte-americanas, e da posição da administração de algumas universidades de reagir tentando dissipar os protestantes ou mesmo chamando a polícia, vemos os mesmos grupos defendendo, cada um, a posição contrária àquela que haviam defendido anteriormente. De um lado, os grupos mais ao centro e à direita, que até há uns tempos defendiam que a liberdade de expressão estava sob ataque nas universidades, defendem agora ser necessário acabar com os protestos de esquerdistas radicais, em nome da segurança dos campus universitários e das pessoas de identidade judaica. Do outro lado, aqueles que até há poucos meses queriam cancelar discurso por ser radical (de direita) e constituir discurso de ódio (contra algumas minorias), querem agora liberdade de expressão absoluta e não se importam de cantar pelo fim do Estado de Israel ou de ignorar que do outro lado da guerra está o Hamas, uma organização terrorista sem qualquer apreço pelos direitos humanos. Os que queriam cancelar desejam agora não ser cancelados. Os que se queixavam da cultura de cancelamento desejam agora cancelar protestos desagradáveis e que consideram moralmente aberrantes. Onde estão os defensores da liberdade de expressão? É difícil encontrá-los.

Os protestos na Universidade de Columbia, em Nova Iorque, ao longo da última semana, têm sido particularmente controversos e têm espoletado uma série de protestos semelhantes em outras universidades. Como em várias universidades, grupos de alunos (que são uma minoria dos estudantes, é sempre importante relembrar) montaram acampamentos com tendas, muitas vezes que permanecem nos relvados dos campus durante meses, onde se grita pela justiça para os Palestinianos, pelo divestment de investimentos em Israel, e se entoam cânticos pela existência de um Estado do rio Jordão até ao mar. A grande maioria dos protestantes são pacíficos e não violentos e, por muito que não gostemos das suas ideias, creio que têm o direito de protestar.

É evidentemente contra as regras de funcionamento de uma escola montar acampamentos permanentes (com tendas, durante meses a fio) no meio dos jardins das universidades, de forma não autorizada. No entanto, desde que feitos de forma pacífica e não-violenta, creio ser muito difícil do ponto de vista ético que quem quer defender a liberdade de expressão queira também cancelá-los a ponto de chamar a polícia. Se os protestos forem pacíficos e não-violentos e não constituírem ameaças à vida das outras pessoas ou ao funcionamento geral das universidades, creio não ser razoável chamar a polícia, como fez a presidente da Universidade de Columbia a semana passada. A partir do momento em que se parte para altercações físicas, ocupação de edifícios da universidade, ou ameaças graves e concretas à segurança de indivíduos ou grupos, passa a ser legítimo querer cancelar os protestos. Foi isso que se passou esta semana em Columbia, com a ocupação de um edifício da universidade, onde os grupos em protesto se barricaram e tiveram de ser removidos pela polícia. A universidade cancelou aulas presenciais durante um período, até as coisas se acalmarem. Os protestos podem tornar-se um fardo politicamente nocivo para Joe Biden, que é percepcionado pela extrema-esquerda como estando a adoptar uma posição pró-ordem e contra os protestos, enquanto a direita o tentar colar a esses mesmos protestos. Lembremo-nos que os protestos universitários do ano 1968 e as divisões internas no Partido Democrata acabaram por custar a Casa Branca ao partido (para Richard Nixon).

Há vários aspectos interessantes, em tudo isto. Primeiro, a ocupação simbólica do Hamilton Hall, um edifício da Universidade de Columbia, que foi ocupado durante os protestos de 1968 contra a guerra do Vietname. Estes são os maiores protestos nos campus universitários norte-americanos desde essa época tumultuosa. Naturalmente, há uma tentativa de colagem simbólica da causa palestiniana aos movimentos de contra-cultura e de direitos civis dos anos 60 que, hoje, são percepcionadas por muitos como tendo vencido e moldado a cultura norte-americana do último meio século. Este tipo de protestos vai muito para além da causa palestiniana. Quem predomina nos campos universitários ganha e perde o discurso cultural doméstico. Cada lado tenta mostrar o outro como extremista e, acima de tudo, persuadir a opinião pública de que a ética está do seu lado. E, através de uma causa, tenta-se mover o eleitorado para mais próximo da sua visão do mundo.

A batalha cultural separa-se da batalha no terreno. Mas, nessa separação, criam-se muitas vezes caricaturas simplistas das posições e os batalhadores culturais acabam por abraçar uma facção que, se postos no terreno, não gostariam nada de abraçar. Como nos lembra o cronista Edward Luce, quantos protestantes contra a guerra do Vietname abraçaram inadvertidamente o regime do norte do Vietname e, principalmente, o maoismo e a sua revolução cultural, também ele aberrante? É preciso abraçar uma aberração para lutar contra outra? Estamos nós reduzidos a escolher o lado menos mau? Em política internacional, e na guerra, dá-se frequentemente o caso de ambos os lados estarem profundamente errados. E o exercício de identificar quem é “menos mau” é muito mais complexo do que possam pensar.

Um segundo ponto interessante, que aliás confirma que estes protestos estão, acima de tudo, centrados em guerras culturais mais latas, prende-se com o facto de, segundo vários jornalistas e responsáveis políticos e universitários, incluindo o mayor de Nova Iorque, grande parte dos elementos mais radicais e violentos dos protestantes nestes acampamentos não serem estudantes daquelas universidades. Os protestos, que se realizam num espaço da Universidade mas aberto ao público em cidades enormes como Nova Iorque, Atlanta, ou Los Angeles, são frequentemente infiltrados por indivíduos de fora, muito mais radicais que os estudantes, que querem causar agitação e que usam os protestos dos estudantes para gerar atenção mediática para as suas causas.

Terceiro, há a questão do discurso propriamente dito. Em particular neste tema, há frequentemente debates sobre a utilização da palavra genocídio e sobre o que constitui antissemitismo. Há quem argumente que cânticos a reclamar por “um Estado [Palestiniano] do rio até ao mar” é, de facto, uma proclamação pela aniquilação do Estado de Israel e de todas as pessoas que lá vivem. Naturalmente, quem argumenta que só deve existir um estado Palestiniano naquela zona tem de responder sobre como irá garantir a sobrevivência de milhões de indivíduos judeus nesse futuro Estado, já que muitas das elites palestinianas são extremistas religiosos que não querem uma democracia com respeito pelos direitos humanos. É também questionável a agressividade e gravidade de algumas acusações contra Israel quando comparadas com a indiferença perante atrocidades muito maiores por outros regimes pelo mundo fora. Percebo, por isso, que alguns Israelitas e Judeus sintam algum antissemitismo. Mas numa guerra de décadas entre Estados, quando um dos Estados é um Estado judaico, qualquer crítica a esse Estado poderá sempre ser denominada de antissemita. Creio que precisamos de ser rigorosos e separar ataques ao povo judeu como um todo e às acções de um governo de um país em guerra. Há também quem argumente que aquilo que Israel está a fazer na Palestina, depois de uma guerra que já matou dezenas de milhares de palestinianos, constitui um genocídio. O Tribunal Penal Internacional considerou que, embora haja crimes de guerra, não há indícios de genocídio.

As acusações de genocídio, ou de intenções de genocídio, de ambas as partes, são naturalmente mais um jogo político para tentar ganhar a guerra da opinião pública. Como todos sabem que a opinião pública considera o genocídio o pior de todos os crimes, muitos tentam mobilizar o conceito para ganhar os corações e opiniões das populações. Os cânticos e slogans – uma vez que felizmente não têm hipótese concreta de vir a ser concretizados – podem ser cantados, por mais aberrantes que sejam ou que discordemos deles. É esse o significado da liberdade de expressão. Liberdade para discurso que alguém considerará ofensivo e violento, mas que não se materializa em ameaça concreta a ninguém. Todos têm de conseguir viver com isso e ganhar “thick skin”, sabendo que a luta discursiva é diferente da guerra no terreno.

Todos estes protestos à volta da causa palestiniana não são sobre a Palestina em concreto. A causa palestiniana tornou-se, antes de mais, um símbolo cultural, instrumentalizado para inúmeros fins e guerras políticas locais e utilizado como “marcador” de pertença a determinados grupos. O mesmo se passa com a causa israelita, em muitas situações, bem como de muitos dos grupos e actores que se posicionam contra a causa palestiniana. No meio de tudo isto, sem que realmente ninguém queira saber deles, está a heterogeneidade e diversidade interna da sociedade israelita, as várias visões que também se digladiam entre si para tomar o poder da sociedade palestiniana, e uma guerra entre Estados demasiado complexa para ser resolvida por quem quer ler tudo de forma binária e identitária. O discurso sobre o assunto foi tomado por posições extremistas.

No fundo, creio ser este o cerne da questão: estes protestos não são sobre o conflito israelo-palestiniano, mas sim sobre política local norte-americana e ocidental. São a exportação para a política externa – são uma projecção geopolítica – das tendências a que infelizmente assistimos nos últimos anos: a crescente radicalização do discurso e das acções em torno de uma concepção identitária e grupal do ser humano e da política. A simplificação excessiva e agressiva do discurso em amigos e inimigos, de forma absolutamente binária e adolescente, não ajuda ao progresso de ninguém.

ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA    AMÉRICA    MUNDO

COMENTÁRIOS (DE 13)

Paulo Silva: Cara Mafalda Pratas, há um desequilÍbrIo na comparação entre os dois campos de batalha. De um lado, do lado mais conservador, estão por norma indivíduos ou palestrantes isolados que não alinham no political correctness fomentado pela esquerda radical, e que têm a coragem de remar contra a maré, (recordo aqui o famoso Jordan B. Peterson), do outro, estão frequentemente grupos com dezenas, centenas ou mesmo milhares de arregimentados… Ajuntamentos grupais que, como é sabido nos states, (e não só), facilmente descambam para a violência. By the way... É preciso abraçar uma aberração para lutar contra outra?… Esta pergunta bem podia ser colocada a muitos dos ditos resistentes anti-fascistas que aqui abraçaram todas as aberrações marxistas-leninistas… (do estalinismo ao maoismo) enquanto diziam lutar pela liberdade contra o Estado Novo. Seriam ingénuos ignorantes?...

Tomaz Man: Talvez se os "estudantes" estudassem um pouco mais deixariam de dizer tantas idiotices ignorantes. Mas, reconheço, isso dá menos posts virais. E, sobretudo, torna mais difícil conseguir aquela sensação (bem deturpada) de virtude que parece que alimenta tantos deles.

sexta-feira, 3 de maio de 2024

Os direitos de cada povo


A um espaço. Porque não Israel?

Em directo/ Israel acredita que Hamas vai rejeitar a proposta mais recente para acordo sobre reféns

Tensão na Universidade da Califórnia em Los Angeles. Herzog diz que universidades dos EUA estão contaminadas por "ódio e antissemitismo". Hamas garante "espírito positivo" para negociar cessar-fogo.

BEATRIZ FERREIRA: Texto

Actualizado há 3h

Oferecer AFP via Getty Images

Momentos-chave:

Há 3hResistência Islâmica reivindica ataque com mísseis contra Israel

Há 4hVárias universidades britânicas estão a montar acampamentos pró-Palestina

Há 5hKibbutz confirma a morte de Dror Or, um dos reféns ligados a Portugal. Corpo estará em Gaza

Há 5hCerca de dois mil detidos até agora nos protestos pró-Palestina nas universidades dos EUA

Há 6hNobel Stiglitz classifica Intervenção policial nas universidades dos EUA como ameaça à liberdade académica

Há 7hEUA dizem que Hamas conseguiu desviar temporariamente um carregamento de ajuda humanitária

Há 8hMinistro da Segurança Nacional pede a Netanyahu que despeça ministro da Defesa

Há 8hShlomi Binder é o novo chefe das secretas das IDF

Há 10hTurquia suspende trocas comerciais com Israel, avança a Bloomberg

Há 10hBiden diz que protestos não mudam posição dos EUA sobre conflito em Gaza

Há 10hJoe Biden fala pela primeira vez sobre protestos em faculdades nos EUA. "Há o direito ao protesto, mas não o direito de criar o caos"

Há 11hONU: seria preciso esperar até 2040 para reconstruir as casas danificadas em Gaza se a guerra acabasse hoje

Há 12hMais de 100 manifestantes terão sido detidos na UCLA

Há 12hQuase metade dos 282 detidos em Columbia e na City College de Nova Iorque não tinham ligação às universidades

Há 13hDelegação do Hamas vai ao Egipto para negociar proposta de cessar-fogo. E diz que vai "com espírito positivo"

Há 13hOu saem ou são detidos, avisa a polícia. Cerca de 40 manifestantes resistem

Há 13hPresidente israelita diz que universidades dos EUA estão "contaminadas pelo ódio e antissemitismo"

Há 13hPolícia dispersa manifestantes do Royce Hall, um dos edifícios da UCLA

Há 14hAs imagens dos confrontos entre manifestantes e polícia na UCLA

Há 15hUCLA prolonga aulas online

Há 15hPolícia desmantela barricadas no campus da UCLA e faz novas detenções

Há 15hPolícia terá cercado acampamento na UCLA

Há 16hPolícia já entrou no acampamento do campus da UCLA

Há 16hGabinete de guerra de Israel reúne-se esta quinta-feira para discutir negociações sobre reféns

Há 19hProtestos pela libertação de reféns e contra ofensiva a Rafah bloqueiam autoestrada em Telavive

Há 19hTrump: detenções na Universidade de Columbia foram "uma coisa linda de se ver"

Há 19hTensão continua na UCLA. Polícia ameaça com detenção manifestantes que não abandonem o campus

Actualizações em direto

Há 3h23:53 Tiago Gama Alexandre

Resistência Islâmica reivindica ataque com mísseis contra Israel

Uma fonte da Resistência Islâmica, grupo do Iraque, disse à Reuters que o grupo lançou mísseis de cruzeiro a partir de território iraquiano contra Telavive.

Há 3h23:48 Tiago Gama Alexandre

Líder dos houthis diz que grupo já lançou mais de 600 mísseis desde outubro

O líder dos houthis afirmou esta quinta-feira que o grupo lançou 606 mísseis balísticos, mísseis de cruzeiro e drones desde 7 de outubro.

Abdel-Malik al-Houthi detalhou que 111 projécteis foram lançados contra Israel e os restantes tiveram como alvo navios de guerra dos aliados israelitas.

Há 3h23:22 Agência Lusa

Universidade encerra instalações em Paris depois de nova ocupação de estudantes pro-palestinianos

O Instituto de Estudos políticos de Paris decidiu encerrar as suas principais instalações na sexta-feira devido a uma nova ocupação por dezenas de estudantes pró-palestinianos, enquanto o Governo francês apelou à manutenção da ordem pública nas universidades.

A ministra do Ensino Superior, Sylvie Retailleau, tinha pedido aos reitores das universidades francesas que garantam a “manutenção da ordem pública”, recorrendo a “todos os poderes” à sua disposição, nomeadamente em termos de sanções disciplinares em caso de distúrbios ou de recurso às forças policiais.

Na sequência de um debate interno sobre o Médio Oriente, na quinta-feira de manhã, que qualificaram de “decepcionante, mas não surpreendente”, os estudantes do comité palestiniano do Instituto de Estudos Políticos de Paris, conhecido como Sciences Po, anunciaram, esta quinta-feira à tarde, o lançamento de uma “concentração pacífica” no átrio da escola e o início de uma greve de fome de seis estudantes “em solidariedade com as vítimas palestinianas”.

Esta quinta-feira à noite uma centena de estudantes votou, em assembleia geral, a ocupação do campus, disse à AFP um membro do comité palestiniano, que não revelou o seu nome.

As greves de fome vão continuar até que “se realize uma votação oficial e não anónima no Conselho do Instituto para a Investigação de Parcerias com Universidades Israelitas”, disse Hicham, do Comité Palestino.

Após uma mobilização tensa no final da semana passada, o protesto foi suspenso depois de a direcção ter concordado em organizar um debate interno.

Há 4h22:40 Agência Lusa

Várias universidades britânicas estão a montar acampamentos pró-Palestina

Várias universidades britânicas começaram a criar acampamentos pró-palestinianos e contra a guerra na Faixa de Gaza, mas os organizadores sublinharam que não esperam uma repetição da violência que se regista nos protestos nos Estados Unidos.

O primeiro acampamento universitário foi montado na semana passada em Warwick e, mais tarde, nos campus de Bristol, Sheffield, Manchester, Leeds e Newcastle, segundo os organizadores.

A líder do grupo Campanha de Solidariedade com a Palestina, Stella Swain, sublinhou aos meios de comunicação social que esta semana e na próxima “mais locais vão aderir à chamada de protesto”.

“Todos os protestos até agora foram completamente pacíficos e não há nada que indique que não o serão. Haveria muito pouca razão para uma resposta [da polícia]”, frisou.

Esta responsável acrescentou que os protestos pacíficos no Reino Unido incluem estudantes que abordam questões como o colonialismo, considerando as manifestações de “eventos pacíficos, mas educativos”.

Swain sublinhou que espera que nenhum político, quer apoie a causa ou não, queira ver a polícia britânica agir como a polícia norte-americana fez com os manifestantes estudantis.

Na Universidade de Manchester, um acampamento foi montado esta quarta-feira na área de Brunswick Park.

“Podem ter a certeza de que faremos todo o possível para manter as coisas como sempre e instamos os manifestantes a agir em conformidade”, realçou um porta-voz desta instituição de ensino.

“Estamos muito conscientes da necessidade de garantir que todos no nosso campus permaneçam seguros e protegidos e isso será de grande importância”, acrescentou.

Há 5h21:44 Cátia Rocha

Kibbutz confirma a morte de Dror Or, um dos reféns ligados a Portugal. Corpo estará em Gaza

O kibbutz Be’eri anunciou que Dror Or, que se pensava ser um dos reféns levados pelo Hamas para Gaza, morreu nos ataques de 7 de outubro.

Através de comunicado, que é citado pelo jornal israelita Haaretz, é dito que o corpo está ainda com o Hamas. “Exigimos o regresso do corpo de Dror, assim como a devolução de todos os reféns.”

Dror Or, de 48 anos, tinha nacionalidade portuguesa por ser descendente de judeus sefarditas. No ataque de 7 de outubro, a sua mulher, Yonat, foi assassinada. O filho mais velho, Yahli, sobreviveu porque não estava em casa.

Os dois filhos, Alma e Noam Or, de 13 e 17 anos, foram levados para a Faixa de Gaza e libertados em novembro. O sobrinho de Dror Or, Liam, também foi raptado e acredita-se que ainda estará entre os reféns.

Dror Or era um chef e fabricante de queijo artesanal na Be’eri Dairy, empresa que fundou em 1991 no kibbutz. A mulher tinha uma linha de carpintaria e móveis, a Ayuna.

Com este anúncio, o total de israelistas mortos que ainda estão em Gaza eleva-se para 37.

Há 5h21:20 Agência Lusa 

Cerca de dois mil detidos até agora nos protestos pró-Palestina nas universidades dos EUA

Pelo menos 200 manifestantes foram presos hoje na universidade de Los Angeles, elevando o total nacional para mais de duas mil detenções nos protestos contra a guerra na Faixa de Gaza, segundo uma contagem da agência Associated Press (AP).

Protestos e prisões ocorreram em quase todos os cantos dos Estados Unidos, mas, nas últimas 24 horas, o foco esteve concentrado na Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA), onde acontecimentos caóticos ocorreram na manhã de hoje, quando polícias com equipamento antimotim investiram contra uma multidão de manifestantes.

A polícia removeu barricadas e começou a desmantelar o acampamento fortificado dos manifestantes na UCLA depois de centenas de pessoas, entre alunos e activistas, desafiarem as ordens de saída, alguns dos quais formando correntes humanas, enquanto a polícia disparava granadas de atordoamento para dispersar a multidão.

Pelo menos 200 pessoas foram presas na UCLA, segundo o sargento Alejandro Rubio, da Patrulha Rodoviária da Califórnia, citando dados do Departamento do Xerife do Condado de Los Angeles.

Rubio disse que os detidos estavam a ser autuados no complexo penitenciário do condado, próximo do centro de Los Angeles, e que a polícia ainda vai determinar se irá proceder a outro tipo de acusações.

Trabalhadores entraram no antigo acampamento na manhã de hoje e iniciaram uma extensa limpeza. As escavadoras recolheram sacos de lixo e retiraram as tendas. Alguns edifícios estavam cobertos com inscrições, descreve a AP.

Há 6h20:22 Cátia Rocha

Rutgers University, em Nova Jérsia, faz ultimato a manifestantes: têm até às 21 horas para desmantelar acampamento

A direcção da Rutgers University, em New Brunswick, na Nova Jérsia, lançou um ultimato aos manifestantes: têm até às 16 horas locais (21 horas em Lisboa) para desmantelar o acampamento.

Em comunicado, é explicado que vários estudantes pro-Palestina instalaram-se em Voorhees Mall, no espaço da faculdade, perturbando a realização de exames. Durante a manhã, já foram adiados mais de 28 de exames, que se realizam nos edifícios à volta do acampamento, afectando mais de mil estudantes.

“Há vários dias, algumas pessoas, incluindo estudantes de Rutgers e indivíduos que não são da comunidade, instalaram tendas”, contextualiza o comunicado. A universidade diz que “adoptou consistentemente passos para permitir as organizações de protestos”, incluindo a do grupo que organizou o protesto, os Estudantes pela Justiça na Palestina. Têm apostado numa estratégia de tentar reduzir a escala do protesto, apelando “à segurança dos estudantes e ao sucesso” durante o período de exames.

Durante a manhã, tiveram uma nova reunião com o grupo e terá sido daí que resultou o ultimato. Caso não dispersem, explica a direcção, retirando as tendas, “será considerada invasão de propriedade e não vão ter outra opção, a não ser com a assistência da polícia, remover os manifestantes e os seus pertences”.

Há 6h20:13 Agência Lusa

Nobel Stiglitz classifica Intervenção policial nas universidades dos EUA como ameaça à liberdade académica

O Prémio Nobel da Economia Joseph Stiglitz, professor na Universidade de Columbia, defendeu esta quinta-feira que a intervenção da polícia por causa dos protestos pró-palestinianos em universidades norte-americanas “levanta a questão da liberdade académica”.

Muitos dos políticos, em particular os republicanos, há anos que travam uma guerra contra as nossas universidades. Não gostam do facto de ensinarmos os nossos alunos a pensar um pouco mais por si próprios [porque] quando o fazem, normalmente saem com uma posição diferente daquela que alguns dos políticos conservadores gostariam que tivessem”, afirmou hoje em Londres.

“O presidente da Câmara [dos Representantes, Mike] Johnson, foi aos degraus da Universidade de Columbia há uns dias e disse que o presidente da universidade deveria demitir-se. É uma interferência na liberdade académica, algo que não vemos desde as audiências da Comissão das Actividades Antiamericanas [lideradas por] McCarthy nos anos 1950”, alertou.

Há 7h20:02 Cátia Rocha

EUA dizem que Hamas conseguiu desviar temporariamente um carregamento de ajuda humanitária

No início desta semana, o Hamas conseguiu desviar temporariamente um carregamento de ajuda humanitária vindo da Jordânia, revelou Matthew Miller, porta-voz do Departamento de Estado dos EUA.

Em declarações citadas pelo jornal Times of Israel, foi explicado que o carregamento foi recuperado pelo grupo responsável pela distribuição.

“As Nações Unidas já estão no processo ou já recuperaram a ajuda, mas o desvio por parte do Hamas é inaceitável”, disse Miller.

Se há uma coisa que o Hamas pode fazer para pôr em risco o envio de ajuda seria desviá-lo para o seu próprio consumo, em vez de permitir que chegue aos civis inocentes que dele precisam”, continuou o norte-americano. Esta terá sido a primeira vez em que foi detectado um desvio deste género em Gaza.

O Hamas teve controlo dos camiões de ajuda humanitária “durante algum tempo” antes do os libertar, especificou Matthew Miller.

Há 7h19:44 Cátia Rocha 

Dezenas de manifestantes bloqueiam estrada no centro de Telavive

Dezenas de manifestantes estão a bloquear a estrada Begin Road, uma das principais estradas de Telavive. Entre os manifestantes, que exigem a libertação dos reféns em Gaza, estão algumas das famílias, refere o jornal Haaretz.

Esta quinta-feira tem sido marcada por protestos em Israel, nota o jornal.

Há 7h19:29 Cátia Rocha

Israel acredita que Hamas vai rejeitar a proposta mais recente

Um oficial revelou ao Times of Israel que os negociadores israelitas acreditam que o Hamas deverá rejeitar a oferta mais recente para um acordo sobre os reféns.

A informação foi divulgada quando está a decorrer um encontro do gabinete de guerra, em que já estará a ser discutida a possibilidade de rejeição.

Há 8h18:53 Cátia Rocha

Ministro da Segurança Nacional pede a Netanyahu que despeça ministro da Defesa

Itamar Ben Gvir, o ministro da Segurança Nacional de Israel, pede a Benjamin Netanyahu que demita o ministro da Defesa, Yoav Gallant. Fez o pedido na rede social X, antigo Twitter, após serem conhecidas as nomeações para o exército, incluindo o nome de Shlomi Binder para o cargo das secretas das IDF.

“Gallant, um dos líderes do conceito e um dos mais proeminentes responsáveis ​​pelo fracasso de 7 de outubro, não tem mandato para aprovar as nomeações de generais e projectar o próximo estado-maior geral das IDF”, escreveu na rede social.

Explicou que a crítica “não tem nada a ver com a identidade dos oficiais nomeados”, notando que “alguns podem ser muito dignos”, mas dirigindo-se à “própria decisão de Gallant de continuar como se o maior fracasso da história do país não tivesse acontecido sob a sua responsabilidade como ministro da Defesa”.

“À luz disto, apelo ao primeiro-ministro para que destitua Gallant do seu cargo – não está apto para continuar a servir como ministro da Defesa”, atirou.

Há 8h18:35 Agência Lusa

Médio Oriente. Se judeus não se protegerem, ninguém o fará, afirma Netanyahu

O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, defendeu esta quinta-feira que os judeus devem conseguir proteger-se sozinhos porque ninguém o fará por eles, à medida que enfrenta acusações em todo o mundo ao modo como conduz a guerra na Faixa de Gaza.

“Se tivermos de nos defender sozinhos, defender-nos-emos sozinhos. Se for possível mobilizar os ‘gentios’ [não-judeus], isso é bom. Mas se não nos protegermos, ninguém nos protegerá”, afirmou Netanyahu.

O primeiro-ministro israelita falava num encontro com sobreviventes do genocídio nazi que participarão no domingo no memorial Yad Vashem nas cerimónias do Yom HaShoah (Dia Anual em Memória do Holocausto).

A guerra devastadora lançada por Israel na Faixa de Gaza em retaliação ao ataque de 7 de outubro, perpetrado pelo grupo islamita palestiniano Hamas em solo israelita, está a receber críticas crescentes em todo o mundo.

Há 8h18:19 Cátia Rocha 

Shlomi Binder é o novo chefe das secretas das IDF

O exército israelita anunciou nomeações para vários cargos, incluindo o nome de Shlomi Binder para assumir a pasta das secretas das IDF. No mês passado, o anterior responsável, Aharon Haliva, demitiu-se devido a erros que levaram aos ataques de 7 de outubro.

Actualmente, o brigadeiro-general Shlomi Binder é o líder da divisão de operações. Antes, comandou a 91.ª Divisão Regional.

Há 8h18:10 Cátia Rocha

Homem de 58 anos detido em Telavive por suspeitas de tentar atacar caravana de Netanyahu

Um motorista de 58 anos foi detido em Telavive, Israel, por suspeitas de tentar atacar a caravana do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.

De acordo com o jornal, o suspeito foi levado para a esquadra de Telavive para interrogatório. Uma fonte policial revelou que o suspeito conseguiu sair do carro e tentar atacar os veículos que compõem a caravana de Netanyahu.

O suspeito contrapõe a versão e diz que apenas colocou uma mão na janela de um dos carros e praguejou.

Há 9h18:03 Cátia Rocha 

250 agentes enviados para a UCLA para desmantelar acampamento

Foram enviados pelo menos 250 agentes da polícia para desmantelar o acampamento da Universidade da Califórnia, em Los Angeles (UCLA).

De acordo com o New York Times, que cita o porta-voz da polícia, Erik Larsen, a considerável dimensão de manifestantes neste campus ditou a quantidade de agentes enviados para o terreno.

Há 10h16:53 Cátia Rocha 

Cinco pessoas mortas em ataque israelita a campo de refugiados de Bureij, em Gaza

Cinco pessoas, incluindo uma criança, morreram na sequência de um ataque israelita ao campo de refugiados de Bureij, no centro de Gaza.

A Aljazeera refere que a notícia foi avançada pela agência palestiniana Wafa, que refere que se terá tratado de um ataque aéreo.

Os feridos terão sido transportados para o hospital Al-Aqsa Martyr, em Deir el-Balah.

Há 10h16:45 Cátia Rocha 

Turquia suspende trocas comerciais com Israel, avança a Bloomberg

A Turquia suspendeu todas as exportações e importações de e para Israel, avança a Bloomberg, citando duas fontes turcas com conhecimento do tema.

A Turquia ainda não formalizou esta decisão, nota a agência.

Em 2023, as trocas comerciais entre os dois países representaram 6,8 mil milhões de dólares.

No mês passado, a Turquia já limitou as exportações para Israel devido à guerra em Gaza.

Há 10h16:43 Agência Lusa 

Reconstrução de Gaza custará perto de 38 mil milhões de euros

A reconstrução da Faixa de Gaza, atingida pela guerra entre Israel e o Hamas, deverá custar entre 30 e 40 mil milhões de dólares, estimou esta quinta-feira um responsável das Nações Unidas, que relata uma “destruição sem precedentes”.

“As estimativas do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento [PNUD] para a reconstrução de tudo na Faixa de Gaza ultrapassam os 30 mil milhões de dólares [28 mil milhões de euros], podendo chegar aos 40 mil milhões de dólares [37,4 mil milhões de euros]”, afirmou Abdallah al-Dardari, director do gabinete regional do PNUD para os Estados Árabes, numa conferência de imprensa em Amã.

Al-Dardari, que também é subsecretário-geral da ONU, afirmou que “a escala da destruição é enorme e sem precedentes”.

A reconstrução do enclave palestiniano, sublinhou, é “uma tarefa que a comunidade internacional não tinha de enfrentar desde a Segunda Guerra Mundial”.

Há 10h16:34 Agência Lusa

Médio Oriente: “Secreta” israelita desmantela célula da Jihad Islâmica na Cisjordânia

Uma célula da Jihad Islâmica foi desmantelada na Cisjordânia, segundo o serviço de informações internas de Israel, que acusa o movimento armado de planear uma série de ataques contra as forças de segurança no território palestiniano.

O Shin Bet indicou esta quinta-feira que três membros do grupo foram presos como parte de uma operação realizada na cidade de Yabed, na Cisjordânia.

Segundo as autoridades, os três suspeitos agiram “sob a orientação da Jihad Islâmica para realizar grandes ataques com explosivos detonados remotamente contra as tropas israelitas na área”.

A “secreta” israelita referiu que foram apreendidos artefactos explosivos durante as operações, segundo informações do jornal The Times of Israel.

Ahmed Abu Bakr e Ibrahim Abu Bakr, ambos de 29 anos, que de acordo com o Shin Bet são dois altos membros da Jihad Islâmica, estiveram em contacto com a sede do grupo no Líbano, de onde receberam financiamento, a maior parte sob a forma de criptomoedas.

Ainda se fosse nosso

 

Digo, o tribunal… Não haveria o perigo da retaliação imediata exigida pelo senhor presidente, adiada por motivos de atraso sine die, outros casos fazendo bicha prioritária, nas histórias da nossa história judicial. Confiemos no nosso atraso judicial, entre os mais.

A história não é um tribunal

Não sou especialista em história colonial mas estudei história o suficiente para saber duas coisas: os conflitos sobre a história obedecem a motivações políticas do presente e normalmente acabam mal.

JOÃO MARQUES DE ALMEIDA Colunista do Observador

OBSERVADOR, 02 mai. 2024, 07:5139

Os países ocidentais estão em guerra sobre a sua história. Portugal não é excepção. Ora, o Presidente da República, em vez de apaziguar, inflamou as discussões sobre a nossa história, defendendo “reparações” às antigas colónias pelos crimes cometidos durante a colonização. Com a sua habitual irresponsabilidade, Marcelo Rebelo de Sousa não disse quais seriam as reparações e como seriam feitas.

Não sou especialista sobre a história colonial, mas estudei história o suficiente para saber duas coisas: os conflitos sobre a história obedecem a motivações políticas do presente; e normalmente acabam mal. Antes de exibirmos uma enorme ligeireza sobre a compreensão da história, e de fazermos afirmações categóricas, que nada têm de análise histórica, mas sim de luta política, devíamos ter consciência sobre as fracturas que estamos a cavar e as suas consequências. Não duvido das boas intenções de alguns (onde não incluo o Presidente da República), mas são de uma ligeireza e mesmo de uma inocência graves. Como se diz habitualmente, e com razão, o inferno está cheio de boas intenções.

Não vou entrar nos pormenores da história do colonialismo, a qual é muito complicada, e seguramente não se divide entre diabos e anjos. Mas há um ponto fundamental. De onde vem a legitimidade daqueles que se querem tornar os juízes do passado? Que mandato receberam, e de quem, para julgar o que foi feito há 500, há 400, há 300, há 200 e há 100 anos? Por que razão, acham que é válido recorrer a valores contemporâneos para julgar comportamentos de sociedades que viviam com categorias normativas e morais absolutamente diferentes? É extraordinário que a visão punitiva do passado vem de pessoas progressistas. O julgamento do passado com categorias do presente constitui precisamente a negação do progresso.

A arrogância de quem considera que tem o poder e a legitimidade para julgar o passado significa um dos exemplos mais poderosos, e negativos, do comportamento “superhumano” de Nietzsche, que renuncia totalmente à humildade e dá a si próprio os poderes supremos de tudo julgar e de tudo condenar de acordo com a sua experiência particular. Veja-se um exemplo. Muitos que condenam o “imperialismo ocidental”, que quer impor os valores liberais a outros povos e outras culturas, praticam uma espécie de “imperialismo do presente”, impondo os seus valores a todo o passado.

Mas as guerras culturais sobre a história não acontecem por acaso agora. Vivemos um período da política global onde há uma aliança entre a Rússia, a China e o Irão que procura enfraquecer os países ocidentais. Semanalmente, Putin, Xi e os líderes espirituais de Teerão acusam os países ocidentais de colonialismo (como sabemos muito bem a Rússia, a China e o Irão nunca conquistaram impérios) e de crimes históricos. A rejeição da história é fundamental para enfraquecer identidades nacionais e os países ocidentais. Os nossos juízes da história são aliados objectivos das estratégias da China, da Rússia e do Irão de enfraquecer os países ocidentais, a maioria sem ter qualquer consciência disso, mas alguns sabem muito bem o que estão a fazer. Cada vez que se ataca a nossa história com a violência com que o Presidente o fez, reforça-se o poder daqueles que nos países de língua portuguesa se querem aliar à China e à Rússia e não aos países ocidentais. Terão Putin e Xi acrescentado Marcelo à lista dos seus aliados no Ocidente?

Obviamente, a história deve continuar a ser discutida e interpretações diferentes do passado são bem-vindas. Mas interpretar, criticar não significa julgar tempos diferentes com os nossos quadros mentais e normativos, como se estivéssemos a colonizar o passado com as ideologias contemporâneas.

Mas há outra questão relevante. O conceito de responsabilidade colectiva é muito polémico. Há muitos portugueses que se recusam a aceitar responsabilidade pelo que aconteceu no Império português. Nas democracias liberais e pluralistas, por regra, a responsabilidade individual deve prevalecer sobre a responsabilidade colectiva. Desconfio que a maioria dos portugueses não sente responsabilidade individual pelas políticas coloniais do passado. Só em circunstâncias absolutamente excepcionais é que a responsabilidade individual deve estar subordinada à responsabilidade colectiva. E, para que isso aconteça, é necessário um consenso nacional muito forte. No caso das “reparações” às antigas colónias parece-me que estamos muito longe de um consenso nacional. Pelo contrário, parece ser uma questão fracturante que só irá dividir ainda mais o país.

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COMENTÁRIOS (de 39)

 Carlos Quartel: Marcelo levanta estas lebres só para procurar protagonismo e, neste caso, desviar atenções da história das gémeas. A história da espécie é a história da conquista, da guerra, do roubo, da violação do genocídio. E Marcelo sabe-o bem Era bonito pedirmos desculpa aos marroquinos por os ter expulsado, ou pedirmos compensações aos franceses pelos roubos e desmandos das invasões napoleónicas. Até os nórdicos tinham que pagar pelos roubos e comércio de escravos dos vikings. É preciso que alguém diga isto, em voz alta, de modo a convencê-lo que não vamos na conversa dele. Já chega de patetices .                   Afonso Soares: Não sinto responsabilidade nenhuma. Sinto-me VITIMA por cerca de trinta meses em que estive na guerra colonial. O PR deve sentir culpa pelos anos em que o PAI dele esteve em Moçambique como Governador-Geral de 1968/70 e Ministro do Ultramar de 1973/74. Portanto o PR deve pagar porque foi um dos beneficiados. Vivemos tempos estranhos governados por gente estranha.               Francisco Almeida: Muito bom artigo. Vai sendo tempo de denunciar e lutar efectivamente contra os que objectivamente, atentam contra a nossa civilização ocidental, sejam eles intelectuais, arruaceiros ou presidentes da República.               Isabel Amorim: A história desta história só tem a ver com uma coisa: desviar a atenção do caso das gémeas, mais nada! Não tem a ver com caso nunhum profundo, simplesmente desviar as atenções.             Carlos Marques: A criatura com os disparates que disse só está a tentar desviar as atenções dos casos que envolvem a família. Investiguem a fundo o caso da santa casa.                João Floriano: Excelente crónica, cheia de sensatez. Este assunto é sobretudo uma questão de bom senso. Ainda não conseguimos perceber (eu pelo menos não consegui e agradeço que alguém que já tenha chegado a um entendimento, me informe) sobre as verdadeiras motivações de Marcelo Rebelo de Sousa que com as suas insistentes declarações veio provocar acentuado mal-estar e alarme social. A crónica motivou-me outra reflexão: se a sociedade portuguesa já tem uma larga componente de cidadãos com proveniência africana e brasileira, já aqui nascidos ou vivendo aqui há muitos anos, se tem igualmente um largo número de imigrantes vindos dos países a compensar, então essa multidão estará também a contribuir através dos seus rendimentos para o bolo da compensação. Penalizados no passado (de acordo com a teoria woke), sê-lo-ão agora no presente porque economicamente não se compreende como as compensações serão feitas se não forem em dinheiro. As autoridades dos países a compensar estão-se borrifando para estátuas de madeira de pénis alterados. querem mesmo dinheiro. Tenho sempre resistido a teorias da conspiração que existem paralelamente à evolução da NOM, que a mim me parece óbvia : impérios caem, outros lhe tomam o lugar. O que eu não compreendo é haver no mundo ocidental quem alimente a destruição do nosso modo de vida e faça o jogo dos nossos inimigos.                  antonyo antonyo: O que é curioso é que o Brasil, tão rápido agora a fazer prova de vida , só 50 anos após a independência é que aboliu a escravatura !       bento guerra: Um masoquismo de idiotas, mal resolvidos com a sua própria história                    Alexandra Azevedo: Excelente-comentário. Em-relação-ao-MRS-acho-que-lançou-este-assunto-para-tentar-esquecer-o-assunto-das-gémeas.               Joana Fernandes: Excelente, como sempre! JMA tal como Miguel Morgado são dos poucos pensadores políticos actuais que não seguem a torrente e se destacam pela clareza de conceitos e princípios tão importantes para colocar as discussões nos devidos limites. Onde é que isto nos leva? Não podemos ser juízes da história! Boa ou má, a história é o que foi e só nos resta estudá-la para não cometermos os mesmos erros e antecipar outros. Num mundo cada vez mais imprevisível, o “story telling” é essencial para se poder ter o máximo de imagens e ideias do que pode acontecer… se vamos agora censurar a história o que nos resta para olharmos o futuro??                    José Carvalho: "há 500, há 400, há 300, há 200 e há 100 anos?"